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Televisão

B’SD

T E L E V I S Ã O

A CARTA DO REBE

Rosh Chodesh Elul 5714 (1953)

Apesar desta carta ter sido escrita em 1953, ela parece especialmente atual.

Com respeito à televisão, ela constitui um atentado aos padrões de moralidade nunca antes igualado. Até os não judeus espalham tempestades de protestos contra a televisão que destrui as crianças. Eles pensam nos meios de retroceder para chegar o mais próximo possível da normalidade.

Esta é uma situação terrível em que os judeus aprendem dos não-judeus como agir. Em particular, em relação ao que recentemente aconteceu, quando vimos quatro crianças judias entre outras crianças que se degradaram a ponto de matar e assassinar pessoas. Todo mundo admite que um dos motivos é a televisão e os filmes em que se aprende como matar e atirar.

Há outro fator também implicado. Até mesmo quando dentro de nós pensamos que só vamos ver uma emissão “froum” (religiosa), que temos o direito de ver, como, sendo pais, podemos garantir que as crianças não verão as outras emissões que eles não devem ver, especialmente nos Estados Unidos, onde as crianças não obedecem tanto aos pais. As crianças dizem que os pais vêm televisão e que elas também podem ver o que têm vontade.

O que pode garantir que os próprios pais não vão falhar? Hoje eles vêm os programas autorizados e amanhã um olho vai deslizar sobre uma outra emissão. E aos poucos, tudo vai ser permitido para eles!

Eles exclamam: “há dez anos, quando ainda não existia a televisão, o mundo não era o mesmo?”

Outra conseqüência nefasta pode atingir as pessoas ao seu redor. Elas saberão que este indivíduo tem televisão e também uma barba comprida. Elas não são obrigadas a saber que eles só vêm as emissões autorizadas; então elas vão olhar todos os programas, inclusive aqueles que não deveriam ser autorizados, apoiando-se sobre nesta ‘aparente’ autorização. A autorização segundo a qual: “esta pessoa possui um aparelho de TV, os judeus religiosos também e até mesmo os judeus chassídicos: ‘basta constatar o que eles fazem’.”

Isto é semelhante ao que encontramos na existência do corpo que possui 248 membros que não podem estar todos sadios num ser humano. Uma pessoa pode ter a visão fraca, um outro membro afetado, etc... Será que diríamos que se o outro tem problemas nos olhos, nós também queremos ter nos nossos?

Do mesmo modo, em termos espirituais, ninguém é completo, cada um se esforça ao máximo na Torá e nas Mitsvot. Então, por que iríamos aprender do outro algo negativo?

Todos os que possuem televisão não podem afirmar que a adquiriram para aumentar sua Irat Shamaim (temor de D’us) ou suas boas Midot (boas qualidades). Cada um da outra explicação. Ou é ele que quer um móvel para a casa ou é a esposa que a quer ou ele a recebeu de presente, será que ele vai ter que jogá-la fora?

Antigamente as pessoas tinham o cuidado de não passar na frente de uma igreja. Sentiam que seria melhor desviar-se. Uma mãe tomava cuidado para seu filho não se aproximar, nem na calçada da frente. Hoje, por intermédio da televisão as pessoas introduzem em suas casas a igreja, o padre e a cruz ........

C O N F I S S Õ E S

de uma ex-consumidora de televisão

Em primeiro lugar, não quero que se enganem. Constituímos uma família muito praticante. A única coisa, é que possuímos uma televisão. Uma televisão que funciona bem. Mas quando eu lhes explicar tudo, vocês compreenderão.

É isso: quando minha tia-avó Sara nos deu alguns móveis que ela não precisava mais, na parte inferior esquerda da prateleira do armário descobrimos um pequena televisão.

- “Fiquem com ela, fiquem com ela”, insistiu, “nós temos outras três!” O que fazer? Devolvê-la?

Por outro lado tínhamos boas razões para ter uma televisão. Em primeiro lugar, as crianças não podem estudar o tempo todo. Elas precisam relaxar de vez em quando, sem falar da minha própria distração. Nos tínhamos na época sete filhos! Aliás, tem na televisão certos programas educativos, documentários e notícias; algumas transmissões bem escolhidas, são uma diversão agradável, prática e barata. E que paz, que calma: nenhuma emissão faz tanto barulho quanto meus sete filhos!

Na verdade me enganei em alguns pontos. Primeiro as crianças ficaram terrivelmente superexcitadas quando a viram. E não só meus filhos mas todas as crianças da vizinhança. A novidade foi transmitida bem rápido e de repente, todo dia, depois da escola, nossa casa era invadida por crianças que queriam ver televisão. Nossos filhos nunca tinham sido tão populares! Paciência para a paz e a calma! A casa estava sempre cheia. Mas isso foi só o princípio. Os pais começaram a se perguntar por que os filhos desapareciam na nossa casa todas as tardes. Depois um dia, uma das mães que é também minha amiga, me telefonou.

- Eva - Minha filha Chaia me disse que vocês têm televisão?

- É. Nós não compramos, foi só um presente...

- Mas as crianças olham!

- Só os programas educativos, expliquei.

- Mas esses programas educativos são interrompidos para dar a propaganda do filme que vai passar tarde de noite...”e num estado de pânico ela murmurou algumas palavras que não posso reproduzir aqui.

- Bom, está certo, isso pode acontecer, mas na verdade, é raro. Em geral a publicidade apresenta coisas inofensivas, como os cereais para crianças.

Apesar disso, no dia seguinte de tarde meu filho de dez anos me disse que seu melhor amigo não tinha mais licença para vir à nossa casa por que tínhamos televisão.

- “Não se preocupa”, tranqüilizei-o. E telefonei para a mãe do amigo.

- “Temos televisão, não uma doença”, disse-lhe.

- “Mas a televisão é uma doença”, exclamou a mulher; “ligar a televisão é ligar o cérebro e ficar hipnotizado até perder a identidade”.

- “Existe um ponto de equilíbrio para tudo”, tranqüilizei-a. Mas ela insistia: estava bitolada.

- “Lamento, Eva”, disse, “como não vou deixar meus filhos comerem alimentos tarefs (não casher), não quero que eles tenham idéias tarefs nas suas cabeças!”

Bom, ela sempre foi o tipo de mulher que exagera. É evidente que os poucos momentos que passávamos na frente da televisão não afetariam em nada nossa maneira de ver o mundo. Me despedi dela e voltei às minhas tarefas na cozinha.

Enquanto eu trabalhava os meus menores de quatro e cinco anos entraram cantando. Era uma graça. Em geral são eles que me ensinam os novos nigunim (melodias).

- “Mãe, compra para nós Crock” pediram.

- “É novo?” perguntei, “não vi no Mindel (o supermercado casher do bairro)!”

- “Não”, insistiram, “é da televisão, é a marca, compra, mãe!”

- “Mas tem hechsher?” (selo de garantia que o produto é casher)

- “O porquinho disse: ha ha, muumm” respondeu fazendo eco, meu filho de dois anos, e antes de poder responder, o de oito anos irrompeu.

- “Mãe, preciso outros sneaks”.

- “E o que é sneaks?” pergunto inocentemente.

- “Você sabe”, mostrando-me a sacola recentemente adquirida numa loja do bairro.

- “Esses não são bons. Eu preciso os Nike! Para correr! Não posso correr com esses!”

Foi então que levamos a televisão para um lugar mais privado, o quarto dos pais, afastado do universo das crianças.

“Sabe”, telefonou minha amiga, “Chaim, o mashpiá (orientador) disse que até o ar da adega se torna menos respirável por causa da televisão.”

Eu não estava entendendo do que ela estava falando.

“Meu marido”, deveria ter-lhe respondido, “não tem nada a ver com a história toda. Ele trabalha o dia todo, estuda Torá de noite e acorda cedo para rezar. A televisão não o afeta em nada. Ela não a vê nunca, ele mal sabe que ela existe”.

Uma noite, quando as crianças foram finalmente deitar, e eu descansava de um dia esgotador, vendo uma peça de teatro educativa, meu marido entrou. Como o filme era interessante, ficamos vendo juntos até duas da manhã. Ele dormiu até um pouco mais tarde no dia seguinte e teve que rezar em casa em vez de ir para a sinagoga como todo dia.

Depois desta noite, de vez em quando ele via um programa. Tinha um que gostávamos os dois e neste dia ele voltava mais cedo dos seus cursos e o víamos juntos. Que mal havia em passar um pouco de tempo juntos. Era agradável, sempre que nos tomássemos o cuidado de não exceder-nos, claro!

Foi aproximadamente nesta época que percebi algo que até então não tinha me tocado. Explico. Cada marido tem o direito de estar satisfeito com seu interior, embora, no que se refere ao meu marido, ele nunca se preocupou com essas coisas. Apesar disso, de repente, numa manhã, ele levantou a cabeça para mim depois de passar manteiga na torrada e perguntou:

- “Será que essa é a melhor manteiga?”

Pelo menos é o que penso que ele disse, embora não tenha tido tempo de responder-lhe por que estávamos no meio da hora do rush da manhã, quando tento fazer com que cinco crianças tomem três ônibus escolares diferentes.

De costume, durante este período, meu marido está bem ocupado, mas nesta manhã ele estava sentado cativado pelo linóleo.

“Ele não tem este brilho de ‘tornado branco’, suspirou, decepcionado, acrescentando que nosso banheiro não cheirava a frescura Wick e que suas camisas não tinham a brancura Omo.

Que podia eu dizer! Quero dizer que não sou do tipo que sai por aí comprando qualquer novidade para a casa, a menos que seja realmente mais barato; mas meu marido continuou a comparar meus produtos de limpeza com as imagens poéticas, olhando para mim e sacudindo a cabeça. E eu pensei que alguma coisa não estava indo bem no trabalho e que ia simplesmente passar com o tempo.

Fui muito inocente. Uma noite, uma semana mais tarde, tudo explodiu.

- “Eva, acho que devemos discutir”, disse meu marido.

- “Não da para esperar a próxima propaganda?” perguntei.

- “Acho que não” disse levantando-se para reduzir o som.

- “Hei”, exclamei, “eu estou vendo!”

- “É, mas eu estou olhando para você” disse ele.

- “Para mim?” consertei meu lenço e puxei as mangas.

- “Sabe”, continuou, “eu queria dizer... bem, eu ia dizer... em resumo, eu pensei...”

- Querido, não temos mais nada em comum, dizia a atriz da novela na televisão.

Olhamos os dois a beleza dos longos cabelos, os lábios perfeitos, os grandes olhos, que resplandeciam na tela e de repente, entendi tudo. Eu me vi três meses e meio depois do sétimo filho, usando sempre os vestidos de gravidez (os compridos, que escondem as varizes).

Que comparação e que contraste com essas belezas eletrônicas que desfilavam diante de nossos olhos, que não tinham nada mais a fazer que exibir-se com seus quinze quilos a menos que eu, e aquelas meias da moda que não escorregam.

- “O que você queria dizer, em que você pensava?” como se a pergunta pudesse ser feita!

- “Bom pensei numa porção de coisas” disse suavemente.

Não me era difícil imaginar.

- “Sabe”, continuou ele, “estes programas podem nos colocar na cabeça uma porção de idéias e nos fazer desejar qualquer coisa. Mas quando penso de verdade no que possuo, em realidade, bem, graças a D’us, tenho aquilo com que a televisão nunca sonhou. Tenho filhos e uma mulher maravilhosos! É muito”.

- “Felizmente” tranqüilizei-o.

- “Só que”, - continuou, “quem poderia imaginar que chegaríamos a isso? Não quero mais ter esses pensamentos! E não quero chegar atrasado na reza e faltar aos cursos e nem estar atrasado e cansado no meu trabalho e acabar sendo despedido”.

E pegou o aparelho de televisão e o jogou na lata de lixo, de modo tal que a tela voou em pedaços. Baruch Hashem (Louvado seja D’us). E não quero pensar no que poderia ter acontecido se ele não tivesse feito isso.


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